
Cantinho
do Teatro
Ab-str-ação
Ação
Ab-strata
Ab-erta
Ab-rir espaço para
Pensar
Dançar
Avançar
Sair da Tr-adição
Agir na mut-ação
Multi-ação
Vir-ação
Devir
Entrever
O não visto
Discutir o costume
Vislumbrar novas
Sens-ações
Conhecer o não experimentado
Desvendar
Novos parâmetros
Ab-sorver
Sem judicar
Pre-judicar
Só o pre-conceito
Não pre-ocupar
A Arte
A-preciar
Sem pré-julgar
Inovar
Sem imitar
Repetir
Sem copiar
Abs-trair
Velhos conceitos
Produzir
Novos questionamentos
Tudo que sei
É que nada sei
Sobre tudo
Mas que tudo
Sempre muda
Sendo tudo
Sempre único
E nada seu.
Sua vida não é sua
Sua obra não é sua
Mesmo sendo sua
Inspir-ação
Respir-ação
Imagin-ação
Por que não
Pens-ação
Danç-ação
Trabalh-ação?
Composição
Não é só
Exposição
Expressão
É também
Desconstrução
Para criação:
Angústia
Que é a engrenagem
do artista
Que luta
E sofre.
Seu prazer,
Sua obra,
Sua maldição.
Sem saber
O que fazer
Para começar
Teme o fim,
Pois este,
Não o pertence.
Não vive
Senão para um fim:
Servir à sua arte
Esculpir na sua sorte
O veneno da verdade.
Servo da Arte
Vítima da crítica
Mísero artista
Expulso da República
Espera sua redenção
Nos braços do público.
Acredita,
Se entrega,
Instiga,
Faz mágica sem ser mágico
Ou feiticeiro.
Seu maior defeito
É ser sincero
Mesmo quando não quer.
Solitário é seu caminho.
In-compreendido,
Mal-compreendido
Esse tal de artista...
O que é isso?
Isso é Arte?
Quem ele pensa que é?
Belo?
O que é belo?
Quem é belo?
Tem que ser belo?
Não sei...
Já sei!
É isso!
Não é isso!
Por quê?
Você sabe?
Você pensa que sabe...
Você Sabe O Que É Saber?
Experimente!
Não guilhotine a
Sens-ação
Pelo hábito da
Re-produção
De narrações,
Figurações,
Representações,
Imitações,
Humanizações,
Rotulações,
Limitações...
Veja com seus próprios olhos,
Sinta com seu próprio senso.
Não tenha medo
da singularidade,
do estranhamento,
da liberdade,
das verdadeiras escolhas.
Não queira entender
O que está por detrás.
Tudo ali está
Na sua frente,
Na sua mente,
Enfrente
Entre na sua própria profundidade
Mergulhe no seu próprio conteúdo.
A Obra quer levar você!
Não resista!
Vá!
Vá!
Vá...
Esse poema que escrevi em 2007 foi inspirado na obra que pode ser apreciada acima, pintada por Wassily Kandinsky, artista russo considerado o pai do abstracionismo.
Procurei, ao compor esse poema, abordar minhas impressões e indagações sobre a tela desse artista, bem como elucubrar sobre o processo de uma criação artística em geral. Lembrei-me também do filme que assisti sobre a biografia de Jason Pollock (também pintor abstracionista), de sua angústia e, ao mesmo tempo, de seu processo de "desentranhamento" da obra. Ele era declaradamente servo de sua obra, bem como, provavelmente, Kandinsky o foi. A obra definia seu próprio começo e fim, independentemente da vontade do artista. Assim como um bebê, que após sair das entranhas de sua mãe, passa a ter uma existência própria, a obra vai aos poucos saindo do artista, deixando de ser do artista, a cada pincelada, ou a cada nota musical, ou a cada passo coreografado, até o momento em que se declara totalmente independente: a obra está completa, terminada!
Ao escrever esse poema, também compartilhei dessa angústia artística. Lembrei-me ainda de Edgar Allan Poe que disse: "(...) a originalidade (...) de modo algum é uma questão, como muitos supõem, de impulso ou de intuição. Para ser encontrada, ela, em geral, tem que ser procurada trabalhosamente e, embora seja um mérito positivo da mais alta classe, seu alcance requer menos invenção do que negação." (trecho de Filosofia da Composição). Ao mesmo tempo, acredito no impulso criativo que nos move, e na criação que já vem pronta como inspiração, que nos faz acordar no meio da madrugada para "darmos à luz".
Espero que ao ler esse poema, o leitor consiga captar os questionamentos sobre a tela exposta e sobre a própria Arte, em especial, a Arte Contemporânea, bem como conseguir vislumbrar o processo criativo.
by Vera Polverelli
Musicalidade, Poesia e Movimento

Wassily Kandinsky. Composition VII, 1913
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